O hidrogênio verde (H2V) emerge como fator chave na corrida dramática do mundo moderno para tentar evitar que a Terra siga com a temperatura 1,5⁰C acima do registrado no período pré-industrial, como já aconteceu em 2023, conforme revelou recentemente o Serviço Copernicus – agência europeia do clima.
Eleito como um dos principais substitutos dos combustíveis de origem fóssil, o H2V a ser produzido em larga escala está na agenda de grandes empresas do setor energia e nos planos estratégicos de médio e longo prazos dos governos de muitos países, entre os quais o Brasil figura em destaque.
O foco é o processo de transição energética, em atendimento a compromissos de descarbonização previstos no Acordo de Paris, firmado em 2015, para tentar o avanço do aquecimento global. A expectativa mundial é fazer a oferta de H2V chegar, em 2050, a 600 milhões de toneladas por ano (m/t/ano), conforme cálculo do Hydrogen Council, entidade que congrega os produtores mundiais de gases. Para tanto, estima-se investimentos da ordem de US$ 160 bilhões.
Diferenciais positivos
Há vários tipos de hidrogênio disponíveis no mercado e que obedecem a uma classificação internacional por cor. A maioria tem origem em processos que envolvem carbono, como no caso do hidrogênio preto, obtido a partir da gaseificação do gás de carvão. A oferta mundial de hidrogênio convencional em 2023 era calculada em 100 m/t/ano.
O H2V surge agora em destaque porque é obtido a partir da eletrólise da água, reação química clássica dominada há mais de dois séculos. O diferencial crítico é que com o forte barateamento da expansão das fontes renováveis de eletricidade – solar e eólica -, o custo de produção do H2V está caindo gradativamente a valores que permitem a sua fabricação em larga escala.
O hidrogênio verde é cotado na faixa de US$ 6/kg, segundo dados da Irena (International Renewable Energy Agency). Caso grandes investimentos globais se confirmem, a previsão é que o preço fique em torno de US$ 1 a US$ 2/kg.
Vantagem competitiva
É nesse cenário que o Brasil entra como um competidor especial. O país vem atraindo a atenção graças à sua matriz energética limpa. A acelerada expansão da geração solar e eólica, em especial no Nordeste, transforma a região num potencial polo de exportação de H2V.
O Ceará, por exemplo, se propõe a formar uma espécie de hub distribuidor. O governo local já garantiu acordos com principais players mundiais, todos interessados na construção de empreendimentos. Para se ter uma ideia, dados da consultoria BloombergNEF (BNEF) apontam que no Brasil foram investidos US$ 34,8 bilhões em energia renovável e captura e armazenamento de carbono durante 2023.
Segundo estudo da consultoria McKinsey Company, o Brasil poderia alcançar uma produção de hidrogênio verde avaliada em US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões até 2040. Desse total, em torno de US$10 bilhões a US$ 12 bilhões, se destinaria ao consumo doméstico, como, por exemplo, a substituição de diesel em caminhões e para aplicação na siderurgia.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), por sua vez, avalia o potencial nacional para produção de hidrogênio verde em 1,8 bilhão de m/t/ano. Desse total, 245,7 milhões de toneladas seriam economicamente viáveis hoje, de acordo com levantamento da FGV Energia – núcleo de estudos ligado à Fundação Getúlio Vargas.
Ainda sobre o montante de riquezas que o Brasil teria condições de conquistar com a exploração limpa de H2V, o desenvolvimento dessa indústria pode adicionar R$ 7 trilhões ao PIB até 2050, assinala a consultoria LCA, conforme estudo encomendado pela ABIHV (Associação Brasileira de Hidrogênio Verde).
Esforço governamental
Do ponto de vista prático de políticas públicas, neste momento o governo vem trabalhando no Congresso Nacional para buscar a viabilização do arcabouço legal para o desenvolvimento da chamada agenda verde, ou seja, o Plano de Transformação Ecológica, um amplo guarda-chuva de iniciativas onde o H2V está inserido, além criação de um mercado oficial de créditos de carbono.
O Projeto de Lei 2.308/2023, que institui o marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono e sua política nacional, foi aprovado na Câmara dos Deputados em novembro de 2023 Objetivo é assegurar o papel da fonte na matriz energética brasileira e de mitigar as mudanças climáticas. Até o início de 2024 o PL ainda estava em tramitação no Senado.
No caso específico do H2V, existe também uma proposta de arcabouço regulatório para o Plano Nacional de Hidrogênio, precisamente para buscar integrá-lo às demais políticas. A EPE avalia o hidrogênio mais como um instrumento para alcançar setores de difícil descarbonização e com isso trazer valor agregado e alcançar oportunidades em que o Brasil pode ser competitivo.
Ainda segundo a McKinsey, para viabilizar o hidrogênio brasileiro seria preciso adicionar à matriz elétrica mais 180 GW de geração de energia renovável. Nesse sentido, o Congresso Nacional aprovou no ano passado o marco das usinas eólicas offshore (em alto-mar), que traz as condições gerais para a instalação dessa fonte, cuja exploração se dará mediante o pagamento de outorga.
Cenário de indecisão
Certa demora na formalização e liberação das orientações gerais, trazem alguns riscos, conforme avaliam entidades que gostariam que os processos formais se desenvolvessem mais rapidamente. A competição internacional se anuncia bastante dura e perder a largada mundial deixaria o país em desvantagem.
A AIE (Agência Internacional de Energia) informou, contudo, que só 7% dos projetos de hidrogênio verde anunciados no mundo devem estar em operação até 2030. Segundo o relatório “Renewables 2030”, os investidores ainda estão avaliando decisões para seguir em frente com as iniciativas, pois temem custos de produção mais elevados.
O estudo da AIE indica que China, Arábia Saudita e Estados Unidos tendem, nesse contexto atual, a se transformarem em mercados responsáveis por mais de 75% da capacidade renovável para a produção de hidrogénio até 2028.
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