ESG & Energia: a dimensão ambiental e o desafio de chegar ao futuro

A questão ambiental – environmental, em inglês – encabeça a sigla ESG não por acaso. Esse pilar especialmente importante ganhou prioridade extra em tempos de extremos climáticos e combate ao aquecimento global. É destaque dia e noite no noticiário. 

Nem sempre foi assim e há cerca de quatro décadas, na área de energia, muito dinheiro foi investido no Brasil e no exterior em obras que hoje sequer podem ser imaginadas, tamanho o desarranjo causado aos recursos naturais na época em que foram construídas.

Amazonas, município de Presidente Figueiredo, 1981: começa a ser erguida em plena selva a  hidrelétrica Balbina, no rio Uatumã. Oito anos e 3 mil km² de terras inundadas depois, para a instalação de apenas 250 MW de capacidade de geração, estava configurado um dos piores desastres ecológicos que se tem notícia na história do setor elétrico nacional. 

Deslocamento forçado da população, impactos irreversíveis na fauna e flora, multiplicação de doenças, água contaminada e devastação florestal foram algumas das principais consequências dessa intervenção. Do ponto de vista empresarial, não havia certo ou errado, pois assim se fazia numa época em que não havia legislação específica que regulasse rigorosamente como desenvolver esse tipo de obra. Balbina, porém, extrapolou limites. 

Coincidentemente, apenas 21 dias após o início da produção de energia em Balbina, surgia um marco divisório que mudou radicalmente a forma de projetar, realizar e gerenciar obras no Brasil. Era criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama, entidade que trabalha ativamente para procurar evitar que outras Balbinas sejam perpetradas.  

Renovável, mas na mira

Ocorreram muitos avanços nessa área nas últimas décadas. Basta dizer que o modelo original da hidrelétrica Belo Monte, no rio Xingu, com 11.233 MW, previa seis usinas em vez de uma, com área alagada estimada em 20 mil km².  Esse impacto foi reduzido para 400 km². 

Ainda assim, trata-se de um ativo enxergado com reservas, local e internacionalmente, e que vem enfrentando processos judiciais que buscam compensações e reparações adicionais. Empresas que originalmente participaram dos investimentos iniciais hoje já não integram mais o controle da companhia responsável por Belo Monte. Entre outros motivos, embora não oficialmente revelados, realinhamento estratégico envolvendo questões ambientais podem ter pesado na decisão. São empresas com ações em bolsa de valores onde hoje atuam os chamados “fundos ativistas” que, entre outras formas de agir, buscam incentivar as empresas a adotarem políticas e práticas que melhorem seu desempenho ambiental.

Portanto, mesmo com todas as atuais providências e cuidados obrigatórios – manejo de fauna e flora, realocação planejada de populações, compensações materiais e financeiras etc – projetos hidrelétricos ainda são tratados com muitas reservas, embora configurem uma forma de produção de energia renovável com baixíssima emissão de carbono.

No caso das usinas térmicas, o rigor não é menor. As movidas a carvão mineral, embora sejam inúmeras ao redor do mundo, deverão entrar em fase de desativação progressiva ao longo do tempo, mesmo com seus sofisticados sistemas antipoluentes. Grandes companhias multinacionais estão abandonando a modalidade, como forma de zerar gradualmente suas emissões em cumprimento às metas estabelecidas em acordos internacionais formalizados no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP).

Pegadas administráveis

O foco é mais rígido em relação às hidrelétricas e termelétricas, mas todas as formas de produção de eletricidade, bem como seu transporte e distribuição, de uma forma ou de outra, acabam impactando o meio ambiente. 

Mesmo ante suas inúmeras vantagens, enquanto fontes renováveis, usinas eólicas têm ruído elevado, atrapalham fluxos migratórios  de pássaros e modificam paisagens, enquanto os grandes parques solares de operação centralizada, por sua vez, ocupam áreas muito extensas. Em ambos os casos, a reciclagem de componentes e materiais em final de vida útil é um desafio ainda em fase de solução mais aprimorada. 

Há, porém, uma saída bastante utilizada para a mitigação de impactos. Como resultado do Protocolo de Kyoto, principal documento da COP3, de 1997, surgiu o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), embrião do atual mercado de créditos de carbono. Uma unidade de crédito de carbono equivale a uma tonelada de gás carbônico (ou outros gases) que deixou de ser emitida para a atmosfera. 

 

Em 2015, na COP21, houve a aprovação de acordo que entrou em vigor em 2016, estabelecendo a regulamentação do mercado internacional de carbono. Ficou resolvido que os países poderiam negociar os créditos entre si, com a formalização dos ambientes de comercialização regulado e voluntário. 

Hoje empresas de diversas áreas, incluindo as de energia, também trabalham com esse mecanismo, comprando créditos para compensar suas emissões. Dessa forma apoiam o desenvolvimento e manutenção de projetos ambientalmente limpos. No Brasil, o mercado oficial ainda está em fase final de regulamentação. 

Ponta consumidora

Esse tipo de procedimento é tornado público, em geral, por meio dos chamados relatórios de sustentabilidade que começaram a  ganhar destaque na década de 1990. Seu surgimento aconteceu em meio a iniciativas como a Global Reporting Initiative (GRI) em 1997, que desenvolveu um dos primeiros padrões para essa forma divulgação. As publicações se tornaram mais comuns à medida que as empresas reconheceram a importância de comunicar suas práticas e impactos ambientais, sociais e de governança.

Do lado da demanda de energia, hoje é bastante valorizada a certificação de origem. Ou seja, selos de comprovação, emitidos por organizações especializadas, que atestam que toda a  eletricidade utilizada em processos e demais usos corporativos, provém de fontes renováveis. 

Essa prática no Brasil começa a ser mais largamente adotada graças à expansão da abertura do mercado livre de energia. As empresas conseguem hoje escolher a fonte que preferem contratar. Da mesma forma, a eficiência energética – gastar menos e produzir mais – ganha hoje uma atenção maior.

No mais recente ranking  elaborado pelo Conselho Americano para uma Economia Eficiente em Energia (ACEEE, na sigla em inglês), o Brasil, em 2022, ocupava a 19ª colocação em relação a evolução no uso racional de energia, entre 25 economias globais que mais consomem. Houve evolução significativa em comparação a edições anteriores, uma vez que, em 2016, o país já surgia na 22ª colocação.

O mercado de ações está cada vez mais atento não só às estratégias, mas também ao comportamento das empresas, em especial do ponto de vista ESG. A B3, bolsa de valores brasileira, possui métricas específicas para avaliá-las nesse aspecto. É o caso do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3). Criado em 2005, ele é composto por ações selecionadas a partir de aspectos econômicos, financeiros, ambientais, sociais e de governança corporativa.

Já nos Estados Unidos há o Dow Jones ESG Index, igualmente composto apenas por empresas ESG listadas na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), e a Nasdaq (National Association of Securities Dealers Automated Quotations), segunda maior bolsa local, conhecida por reunir grandes empresas de tecnologia, dos ramos de eletrônica, informática, biotecnologia e telecomunicações.

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